07/06/2019
O Leão de Rora (Dos arquivos)

Um pouco de história:

Através das eras, raras vezes houve um tempo em que os santos de Deus foram perseguidos tão terrivelmente como em meados do século 17. A reforma alastrava-se pela Europa e a vinha verdadeira tentava se libertar do sufocante aperto do regime papal. A igreja católica se voltou com fúria total contra todos os que ousavam resisti-la. Mas diante de tal terror e morte, Deus ainda tinha heróis!

Um desses heróis foi Josué Gianavel (1617-1690) que passou grande parte do início da idade adulta como próspero fazendeiro na região de Rora no noroeste da Itália, próximo à fronteira com a França e a Suíça.

Aos 38 anos, Giavanel pegou em armas para resistir às manobras militares do Duque de Sabóia (Charles Emanuel II) lançadas contra a região de Pianessa com o único propósito de erradicar o protestantismo em sua totalidade. Inquisidores impiedosos sitiavam pequenas cidades e aldeias, queimando suas igrejas e matando todos os que se recusavam a renunciar à sua fé.

Pelos próximos 35 anos, acima da região que forma a fronteira entre a Itália e a França, o “Leão de Rora” lutou contra toda a tirania do papado. Gianavel liderava esforços de resistência para fazer frente às investidas de vários duques da região de Sabóia. Isto frequentemente era feito conduzindo grupos de homens à batalha, quase sempre em desvantagem numérica e contra esmagadoras desigualdades e contra o exército mais poderoso da Europa. Mesmo mais tarde, quando a idade e as cicatrizes de batalha o debilitavam, o “capitão dos vales” desempenhou papel proeminente como organizador, redigindo ordens, mais como um general do campo, para conduzir os grupos de homens que tinham se formado para lutar contra os católicos romanos.

O trecho abaixo do Livro dos Mártires de Fox, conta como este herói do século 17 guardou seu testemunho, mesmo quando enfrentava a ameaça de morte quanto aos que lhe eram mais queridos. O cenário é no noroeste da Itália, em meados da década de 1650, durante a Era da Igreja de Sardes. Giavanel acabara de recusar a oferta do marquês de se juntar ao movimento católico romano.

Obtereis vossa petição, porque as tropas enviadas contra vós outros têm estritas ordens de saquear, queimar e matar. - PIANESSA

Então os três exércitos receberam ordem de avançar, e os ataques foram dispostos desta forma: O primeiro pelas rochas de Vilário; o segundo pelo passo de Bagnol; e o terceiro pelo desfiladeiro de Lucerna.

As tropas abriram caminho pela superioridade de seu número, e tendo ganhado as rochas e o desfiladeiro, começaram a cometer as mais terríveis barbaridades e as maiores crueldades. Aos homens os enforcaram, queimaram, puseram no potro do tormento até morrer e os despedaçaram; às mulheres as destriparam, crucificaram, afogaram ou lançaram desde os precipícios; e a seus filhos os lançaram sobre lanças, os trucidaram, degolaram ou esmagaram contra as pedras. Cento e vinte e seis habitantes sofreram desta forma no primeiro dia em que ocuparam a cidade.

Em conformidade com as ordens do marquês de Pianessa, também saquearam as possessões e queimaram as casas dos habitantes. Porém, vários protestantes conseguiram fugir, conduzidos pelo capitão Gianavel, cuja mulher e filhos, desgraçadamente, caíram prisioneiros e foram levados sob forte custodia a Turim.

O marquês de Pianessa escreveu uma carta ao capitão Gianavel, liberando um prisioneiro protestante para que a levasse. O conteúdo era que se o capitão abraçasse a religião católica romana, seria indenizado por todas as suas perdas desde o começo da guerra; que sua mulher e filhos seriam de imediato liberados, e que ele mesmo seria honrosamente ascendido no exército do duque de Saboia. Mas se recusasse aceder às proposições que se faziam, sua mulher e filhos seriam mortos, e se ofereceria uma recompensa tão enorme por sua entrega, vivo ou morto, que inclusive alguns de seus mais íntimos amigos se sentiriam tentados a traí-lo pela enormidade da soma.

A esta epístola, o valente Giavanel enviou a seguinte resposta:

Meu senhor Marquês,

Não há tormento tão grande nem morte tão cruel que me fizessem preferir abjurar da minha religião; de maneira que as promessas perdem sua efetividade, e as ameaças tão só me fortalecem em minha fé.

A respeito de minha mulher e filhos, mas senhor, nada pode afligir-me tanto como o pensamento de seu encerro, nem nada pode ser terrível para minha imaginação que pensar em que sofrerão uma morte violenta e cruel. Sinto agudamente todas as horríveis sensações de um marido e um pai; meu coração está cheio de todos os sentimentos humanos; sofreria qualquer tormento para resgatá-los do perigo; morreria para preservá-los.

Mas tendo dito tudo isto, meu senhor, os asseguro que a compra de suas vidas não pode ser o preço de minha salvação. Certo é que os tendes em vosso poder; porém meu consolo é que vosso poder é somente uma autoridade temporária sobre seus corpos; podeis destruir a parte mortal, mas suas almas imortais estão além de vosso alcance, e viverão no além para darem testemunho contra vós por vossas crueldades. Com isso, encomendo-os, assim como a mim mesmo a Deus, e oro para que vosso coração seja transformado.

- JOSHUA GIANAVEL

Na manhã seguinte, Angela Giavanel e suas três filhas foram queimadas vivas em Turim, na Itália. Isto não produziu o efeito desmoralizador que Pianessa e os inquisidores esperavam.

Este valente oficial protestante, depois de escrever a carta acima, se retirou para os Alpes com seus seguidores, e unindo-se a ele grande número de outros fugitivos protestantes, fustigou o inimigo por meio de contínuas escaramuças.

O exército contra o qual Giavanel lutou era feroz, entretanto os heróis de Deus enfrentam uma ameaça maior hoje e uma batalha mais ferrenha. O diabo está andando em derredor bramando como leão porque sabe que está no fim. Embora possamos não pegar em armas fisicamente como Giavanel pegou, é uma boa lição de que podemos nos levantar com a Espada da Palavra, o capacete da salvação e a couraça da justiça para ser um dos heróis de Deus hoje.